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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O grito do silêncio


Uma vez eu conversava com uma pessoa que admiro muito, em dado momento nosso diálogo chegou no tema "silêncio".

Ah eu não posso negar, existem momentos que eu busco o silêncio.
Muitas vezes, principalmente a noite, eu procuro me isolar em algum lugar para não escutar fala humana ou barulho de animal. Nesses momentos eu busco o silêncio de forma instintiva.
Eu busco o silêncio para refletir, para pensar, para ficar só no meu pequeno universo introspectivo.
Me agrada ficar só ouvindo o barulho dos objetos e coisas ao meu redor, como o som do ventilador, das folhas balançando ao vento, das cansadas máquinas de refrigeração que trabalham constantemente. Óbvio, isso não é silêncio, mas eu considero como se fosse.

Voltando ao diálogo.
Essa pessoa com quem eu conversava dizia não gostar do silêncio porquê ele "grita verdades" e algumas verdades podem doer.
(Ou todas doem?)

"O silêncio grita verdades"
"As vozes que falam em sua cabeça passam a falar mais alto"

Eu, uma pessoa extrovertida que por vezes busca a solidão, separei um momento noturno para divagar sobre aquilo.
Passamos a maior parte do dia interagindo com outras pessoas, por mais que sejamos indiferentes a elas. Interagimos com o cobrador do ônibus, com os colegas de trabalho, com os familiares, com os vizinhos, com as pessoas de quem compramos coisas e com as pessoas a quem vendemos coisas. Inevitavelmente, interagimos. Mas e quando estamos sozinhos é o único momento que temos para escutar a própria voz e não a do outro.

Quantas vezes você se escuta por dia?

"O maior problema da solidão é notar que está sozinho" completou a pessoa com quem eu conversava.
Quantas vezes nós não estamos sozinhos, porém, distraídos e esquecemos a própria solidão?
O silêncio não incomoda quando nós não o notamos.
Mas notá-lo e permanecer nele, em ócio, por um longo tempo é como receber uma facada na alma.

Inúmeras vezes minhas conversas da madrugada terminavam mais cedo que meu sono chegava e lá estava eu buscando formas de ocupar minha noite - já esgotado de redes sociais e diálogos rasos facebook - quando então notava minha solidão. Quando surgia o momento da minha mais produtiva (ou destrutiva) reflexão.
Eu passava a escutar meus próprios pensamentos.
Eles gritavam.

Entre as noites de divagação eu cheguei à seguinte conclusão: para existirmos é preciso que alguém note nossa presença e interaja com ela.
Afinal, de quê adianta conhecer o lugar mais belo do mundo e não ter para quem mostrar?
De quê adianta descobri o segredo mais secreto do mundo e não ter para quem contar?
Compartilharemos coisas ao silêncio então?

A minha teoria é de que muitos escritores escrevem para que as vozes que gritam no silêncio sejam silenciadas - pelo menos eu sou um desses.
Mas há uma pequena frustração:

Falamos em forma de grafia, mas escutamos em forma de silêncio.

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